quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

MANUEL TAVARES (1911 - 1974) - Outro calendário

 Ainda em 1944 (ver aqui anterior post), Manuel Tavares realiza um outro calendário, este dedicado aos rios portugueses, demonstrando de novo grande à-vontade na execução da aguarela, de mancha solta e grande economia de meios.  Ainda aqui a encomenda é da Empresa Fabril do Norte.  Sobre a história desta grande empresa, conhecida como a “Fábrica dos Carrinhos” ver, por exemplo, este artigo de 2007 do Jornal de Notícias.

 O calendário foi-me oferecido há já alguns anos, por um amigo,  setubalense como eu, e  ferrenho coleccionador das coisas da terra, não sem primeiro guardar para a sua colecção a aguarela do Rio Sado.  A esta distância, não me lembro sequer de a ter visto.  E portanto, segue o post sem a aguarela de Tavares correspondente ao mês de Setembro. A paisagem sadina foi exaustivamente tratada por tantos pintores, que fácil será encontrar substituição – trouxe, por isso, a contribuição de um outro pintor de biografia esquecida, Alfredo Miguéis (1883-1943) - madeirense de nascimento, e que pelas margens do Sado igualmente andou, tendo sido professor da Escola Industrial de Setúbal.  Finalmente, a curiosidade da apresentação à repartição de finanças do Porto de cada um dos exemplares para pagamento de imposto de selo.
JANEIRO - Rio Minho - Melgaço
 FEVEREIRO - Rio Lima - Viana do Castelo
 MARÇO - Rio Cávado - Barcelos
 ABRIL - Rio Ave - Santo Tirso
 MAIO - Rio Douro - Pinhão
 JUNHO - Rio Vouga - Pessegueiro
 JULHO - Rio Mondego -Coimbra
AGOSTO - Rio Tejo - Santarém
Rio Sado (aguarela de Alfredo Miguéis) 
OUTUBRO - Rio Mira - V.N. Milfontes
 NOVEMBRO - Rio Guadiana - Mértola
 DEZEMBRO - Rio Leça - Ponte das Bruxas

(O velho e longo "braço" do fisco)

O calendário era entregue com esta capa (retoquei digitalmente), revelando a enorme esperança que enchia todo o mundo neste início de 1945 - a aspiração da PAZ.













domingo, 11 de janeiro de 2015

Vila de Frades (Vidigueira) e a pintura naturalista

O palacete

A vasta mansão domina Vila de Frades.  A decadência actual é levada à conta – imagino eu - da crise que terá arruinado o agrário.  São decerto mais de 30 divisões - a preços correntes, só um rendimento generoso poderia alimentar a manutenção daquela casa.

O "quintal" do palacete

Em terra tão pequena era impossível não tentar averiguar  a história de casarão – “é o palacete do professor Conceição Silva, os herdeiros já o venderam ao alemão (?)”.  Deixei de ouvir as agruras de quem comprou quilómetros de alvenaria, e não sabe que fazer deles.  “Do pintor Conceição Silva, de quem Mário Soares diz ter recebido lições de pintura em criança ?!” – insisti. "Esse… o pintor", retorquiu o vizinho.  


Há quanto tempo, andava em busca de uma ligação entre os pintores novecentistas, Vila de Frades e as obras que produziram, sem conseguir compreender que freguesia tão pequena tanto entusiasmo despertasse aos pintores António Conceição Silva (1869 - 1958) e Ezequiel Pereira (1868 - 1943). O catálogo da exposição retrospectiva e póstuma de E.P, organizada pela Sociedade Nacional de Belas Artes, em Julho de 1944, lista cerca de 40 quadros de Vila de Frades.


Conceição Silva – Vila de Frades (óleo s/tela colada em madeira, 220x270 mm-Coleção particular)


















Pormenor











Ezequiel Pereira - Vila de Frades (óleo s/tela, - 425x565 mm, assinado)


Foto da leiloeira Cabral Moncada

Ezequiel Pereira - Caminho de Vila de Frades à Vidigueira (óleo s/tela, - 400x500 mm, assinado)


Foto da leiloeira Veritas


















Caramba, raras terras do Alentejo tinham merecido tanto desvelo por tão ilustres pintores.
Ràpidamente, o mistério de anos aclarou-se.  Ezequiel Pereira era cunhado de Conceição e Silva, o casarão de Vila de Frades acolhia (decerto no Verão) a família completa, os artistas partiam em manhãs de estio para fazer o que sabiam - pintar do natural.  E assim Vila de Frades deu berço ao escritor Fialho de Almeida … e a uma série de obras de pintura naturalista dos cunhados Ezequiel Pereira e Conceição e Silva.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

ANNE MARIE JAUSS (Munique, 1902 - Nova Iorque, 1991)

A leiloeira Renascimento pôs esta semana em venda um quadro de autoria da pintora de origem alemã ANNE MARIE JAUSS.



Nascida a 3 de Fevereiro de 1902 (algumas fontes referem 1907), em Munique, faleceu em Nova Iorque em 1991. Chegou a Lisboa em 1942, refugiada de guerra. Até 1946, ano em que parte definitavamenmte para Nova Iorque pinta, modela cerâmica e ilustra livros. A partir de 1946, inicia em Nova Iorque uma carreira de escritora e ilustradora de livros infantis.

É natural que em Portugal tenha conhecido vários artistas que por aqui foram passando por períodos mais ou menos longos : - Max Brauman, Hansi Staël, Moise Kisling, Hein Semke, Helène de Beauvoir, e outros.

A revista PANORAMA (do Secretariado da Propaganda Nacional) dedicava-lhe o seguinte artigo em Outubro de 1942:

Todos sabem : - a paisagem portuguesa é manancial inesgotável de temas pictóricos. Daí o ser frequente passarem por cá artistas estrangeiros que, enfeitiçados pelos seus encantos, nunca mais podem separar-se dela. Reconheçamos, todavia, que raros souberam interpetá-la. Não porque o modelo seja esquivo, de traços pouco nítidos. Pelo contrário. A dificuldade reside exactamente na sua prodigiosa nitidez e diferenciação, no carácter inconfundível dos seu múltiplosaspectos: a luz, a policromia, a variedade …

Anne Marie Jauss é uma excepção admirável. Com uma visão plástica de pura ingenuidade, de gostoso primitivismo, contempla e interpretra, esses aspectos, compreendendo-os e sentindo-os, ao mesmo tempo, e profundamente.

Não estará certo dizer-se que a nossa paisagem a comove? Vejam-se os trabalhos que nestas páginas reproduzimos. Imediatamente reconhecíveis (que ângulo fotográfico poderia dar-nos, com tanta evidência, a Sintra que ela fixou?) envolve-nos, no entanto, esse halo misterioso, de candura lírica, de infantilidade revivida, que encanta e enternece. Sensibilidade notável, a desta artista estrangeira, cujos invulgares recursos técnicos, postas à prova em todos os seus trabalhos, desde o óleo à ponta seca – pela cor, o desenho, o sentido harmónico da composição e os pequenos milagres da perspectiva - não lograram (coisa rara!) asfixiar. Rapare-se, por exemplo, no quadro a que chqamou “Pequena Quinta”.* Ou, antes: na reprodução desse quadro. Porque os óleos, gravuras e desenhos de Annne Marie Jauss estão ainda no seu atelier, aguardando a oportunidade de serem expostos em público.






Anne Marie Jauss ter-se-á despedido de Portugal e da Panorama com a magnífica capa do nº 28, de 1946.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Ermida de Nª Sª da Conceição (Trafaria) - por Manuel Tavares

A recente descoberta do blogue http://ruinarte.blogspot.com tem-me feito viajar pela memória e pelo país da incúria e do desleixo, através de reportagens fotográficas que revelam a ruína de muito do nosso património em momentos de terrível qualidade estética. Uma das suas entradas revela o estado de abandono deste imóvel à beira-Tejo.
Curiosamente, há mais de 10 anos passou por mim esta aguarela de Manuel Tavares que estava intitulada "Velha Torre - Trafaria", datada de 1955. O autor já registava então a apropriação do edifício religioso para habitação.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

MANUEL TAVARES (1911 - 1974)


O TRABALHO QUE O MILHO DÁ

Aguarelista português, com uma produção prolífica, foi na expressão dos seus contemporâneos, uma figura paradigmática. Terá produzido milhares de aguarelas, grande parte retratando a sua zona de naturalidade - Aveiro - fixando em manchas subtis a labuta de camponeses e pescadores, enquadrados pelos rios e planícies portuguesas. 
Alguns evocam a venda de aguarelas nos Restauradores (Lisboa) e a visita sem desfalecimento a consultórios de médicos e advogados, comerciantes e industriais, tentando vender as muitas obras que ia produzindo com aparente facilidade. Se a venda não corria de feição, e a receita era magra, poupava nas tintas e nos papéis, mas não renunciava. 
Todos os anos, dezenas de aguarelas de Manuel Tavares, surgem à venda nas principais casas leiloeiras portuguesas. Continua a ter colecionadores fiéis. 
O que trago hoje é um trabalho muito curioso a que, aliás, se dedicaram muitas figuras das artes plásticas nos anos 40 e 50 : a realização de calendários para oferta na época festiva.
As aguarelas de Manuel Tavares subordinadas ao tema "O TRABALHO QUE O MILHO DÁ" foi encomenda da Empresa Fabril do Norte e estes trabalhos estão datados de 1944.

JANEIRO - ESTRUMAR


FEVEREIRO - LAVRAR


MARÇO - SEMEAR

ABRIL - SACHAR

MAIO - REGAR

JUNHO -COLHÊR

JULHO - DESFOLHAR

AGOSTO - MALHAR

SETEMBRO - LIMPAR

OUTUBRO - MOER

NOVEMBRO - COSER

DEZEMBRO
ATÉ QUE ENFIM ... O PÃO



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Arqº VELOSO REIS CAMELO (1899 - 1985)



Avistar a torre sineira da Igreja de Barranco do Velho era sinal que a Serra do Caldeirão estava a chegar ao fim, e a Estrada Nacional 2 prometia mais à frente a recompensa para tantas e tantas curvas.  Olhavamos de soslaio “A Ti Bia”, e ala! que o mar de Quarteira  esperava por nós.  Mas, a dignidade daquela torre sineira sempre me desafiou. 



Na semana passada, o desafio de décadas venceu-me ... fiz o percurso inverso, mar-serra, determinado a finalmente descobrir os segredos que o Barranco do Velho escondia.  A desilusão esperava-me.  A Ti Bia, rejuvenescida no exterior, é daqueles restaurantes que não merece duas linhas de texto.



Mas, a mágoa maior foi verificar que o conjunto arquitetónico, constituido pela igreja e duas bonitas casas posicionadas a sul, está hoje abandonado.  Tanto igreja como casas têm a assinatura de um nome relevante na arquitectura do Estado Novo – arqº Veloso Reis Camelo.  É inaceitável a delapidação deste património (provàvelmente datado de final da década de 30, início de 40 – nada consegui saber com exactidão sobre esta obra), que à guarda do Estado (será dos Serviços Florestais, Ministério da Agricultura?), só poderá ter como destino a ruína. O relativo isolamento poderá adiar a chegada do vandalismo.  Mas, não a destruição a prazo.



Abandonar este património, roubá-lo à fruição dos cidadãos, vergá-lo à inclemência do tempo, é apoucar-mos a nossa identidade e afundar-mos inexoràvelmente na indigência cultural e material.




terça-feira, 18 de maio de 2010

Bernardo Marques (1898 - 1962)






Bernardo Marques foi um notável pintor e artista gráfico da segunda geração do modernismo português. As suas capas para a revista PANORAMA, onde foi director gráfico, são exemplos da notável contribuição que deu na transformação das artes gráficas portuguesas.